O Sujo e o Mal Lavado

O SUJO

– Dá licença! O senhor pode me dizer se o bosque já passou?

– Olha, eu não sei bem, mas acho que não. Cheguei agora, mas ele não passou não? Estou esperando o Calafate. Tive de vir ao centro

– Eu também! Se tivesse o que eu queria no meu bairro, nem pisava nesse inferno

– É a mais pura verdade! É um tédio mesmo! Eu vim ao banco… aí você já sabe como é né?! Caraca! Eu odeio fila!

– Verdade, fila é chato mesmo. Mas quando é pra receber, consigo tolerar. Posso sentar aqui?

– Sim, pois não! Por favor, fique à vontade.

– Puxa, obrigada mesmo. O senhor é sempre assim gentil? Adoro homens gentis.

– Bondade sua. Mulheres bonitas como você devem ter e merecem sempre o melhor.

– Sem palavras agora… sou tímida… você é casado?

– Não, não! Sou solteiro, livre e desimpedido!

– Nossa! Deve tá cheio de pretendentes né?

– Nada!

– você é muito exigente? Bonito assim… é isso?

– Também não… não sei o motivo… é difícil falar de mim… você é muito gentil. Obrigado pela valorização!

– Sou realista. Um homem bonito, forte, inteligente e educado é o alvo de qualquer mulher que queira ser feliz.

– Agora sou eu… sem palavras. Você me deixou vermelho.

– Dissimulado! Sabe que estou falando a verdade… olha lá, lá vem o Calafate. Anota aí meu celular… dá um beijinho de despedida. Me liga. Gostaria de te conhecer melhor.

– Sim, sim! Foi um prazer… já anotei. Vou te ligar mesmo, hein! Podemos sair e nos conhecer mais.

DENTRO DO ÔNIBUS

– Meu Deus! Cadê minha carteira! Fui roubado. Será? Nossa! Como fui idiota… “o número chamado encontra-se indisponível ou fora da área de cobertura” …Droga! Sou um idiota mesmo. Para o ônibus motorista. Vou ter de ir a pé. Merda! Todo o meu dinheiro. A essa hora ela já deve ir longe.

O MAL LAVADO

– Mãe! Vai começar o horário político. Já tá começando, já!

Querido, amado e amigo eleitor, peço licença pra entrar em seu lar. Se eu for eleito…

Por Francisco Rodrigues Pedrosa    f-r-p@bol.com.br

 

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