Conselho editorial do ac24horas
A lógica petista ante o impeachment da presidente Dilma, cuja admissibilidade na Câmara dos Deputados será votada neste domingo, 17, não faz jus ao histórico do partido. Antes de chegar ao poder, o PT entrou com 50 pedidos de impedimento dos antecessores de Lula, a começar por José Sarney, passando por Collor de Melo e Itamar Franco, até Fernando Henrique Cardoso. Não dá pra ignorar que os petistas nunca sequer cogitaram que pretendiam dar um golpe na democracia.
Da mesma forma como acusam o PMDB de tentar encurtar o caminho até a Presidência da República, assim fizeram ao propor a cassação dos mandatos dos adversários políticos. Chegar ao poder central era a sanha da sigla – da mesma forma como se manter nele foi seu objetivo. Daí escândalos como mensalão e petrolão – o primeiro a manter submissos os parlamentares de outras legendas, e o segundo a irrigar o caixa de campanha de Luiz Inácio e Dilma Rousseff.
Apegados às mordomias e às facilidades provenientes dos cargos públicos, os petistas relutam em entregar os pontos. Qualquer um o faria, claro, com a diferença talvez de que não tentaria transformar um processo previsto na Constituição Federal em peroração sobre golpes imaginários. Essa encenação, aliás, é tão ridícula quanto a alternativa proposta a uma possível derrota no parlamento. Uma vez reconhecida a possibilidade de aprovação do impedimento, partiu-se para a defesa de novas eleições gerais – desde que, óbvio, o impeachment não se confirme.
Ou seja, o PT apregoa o golpe para não reconhecer a legitimidade de um processo que, uma vez aprovado, teria que dar passagem a novas eleições, nas quais eles apresentariam Lula como candidato à sucessão de Dilma. Vencer ou vencer sempre foi o lema dessa gente.
Além do mais, apelar aos 54 milhões de votos colhidos nas urnas, como sempre fazem os militantes petistas quando querem rechaçar a faxina iminente, é outra maneira de fingir que não enxergam que grande parte dos eleitores de 2014 agora compõe o grupo majoritário dos que desejam ver Dilma longe da Presidência. A maioria obtida nas últimas eleições desfez-se no rastro da catástrofe econômica e na constatação das falcatruas – tantos as implementadas pelos companheiros quanto as por eles permitidas.
Nos debates, comícios e programas de TV, Dilma acusava Aécio Neves de que faria, caso fosse eleito, exatamente o que ela fez antes mesmo de iniciar seu segundo mandato, tão logo se confirmou a reeleição. Constatar que a autoridade maior da República mentiu para ser reconduzida ao cargo já seria, em qualquer país civilizado, motivo suficiente para sacá-la do poder.
Não no Brasil, onde essa gente alardeia um golpe inexistente para em seguida defender eleições gerais, nas quais acreditam levar vantagem apesar de tudo.
Na medida em que vencia as eleições presidenciais, o Partido dos Trabalhadores perdia a compostura.